Tecnologia da Informação aplicada à Construção Civil eleva competitividade do setor
A indústria da construção civil ainda é conhecida, no Brasil, como um dos setores com menos aplicação de inovações tecnológicas, particularmente quando comparada com setores como a Tecnologia da Informação e Comunicação (TICs), Medicina, indústrias de transformação e indústrias de geração de energias renováveis, que constantemente estão buscando a otimização de seus processos por meio de ciência e tecnologia.
Extremamente relevante para o país, é a indústria que mais emprega no Brasil e uma das principais responsáveis pelo Produto Interno Bruto (PIB) nacional. No Ceará, tal como nos demais estados brasileiros, as oscilações financeiras, o alto custo para aquisição de insumos e equipamentos e o baixo investimento em formação e inovação de processos operacionais e de gestão contribuem significativamente para a demora na implementação de inovações no campo da construção civil.
O Comitê Gestor responsável pela disseminação da Modelagem da Informação da Construção (BIM) no Brasil divulga em seu site, desenvolvido junto à Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), que a estratégia de adoção do BIM no Brasil poderá ser responsável por um aumento de produtividade no setor na ordem de 10%, uma redução dos custos da produção em 9,7% e uma elevação de 28,9% do PIB da Construção Civil.
Percebendo a urgência na otimização dos processos, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI Ceará) vem desenvolvendo cursos de formação e aperfeiçoamento para a área de projetos de Arquitetura e Engenharia com foco na Modelagem da Informação da Construção (BIM).
A instituição lançará em breve os primeiros cursos de formação em BIM. Na modalidade de Ensino à Distância (EAD) será ofertado um curso de 40 horas voltado à orientação de estudantes e profissionais que desejam migrar do CAD para o BIM. “A instituição irá aplicar seu modelo de educação voltado ao desenvolvimento de competências para apresentar os conceitos fundamentais mais importantes da Modelagem da Informação da Construção (BIM) e introduzir conhecimentos sobre os principais recursos do BIM”, explica o arquiteto e instrutor BIM do SENAI Ceará, Davi Ramalho. Nesse curso, os alunos irão partir de um projeto de referência já feito em CAD e desenvolverão o modelo BIM em nível de estudo preliminar.
Também será lançado o curso de 80 horas, no modelo presencial, e posteriormente também EAD, de Aperfeiçoamento Técnico em Modelagem de Edificações BIM, em que os alunos desenvolverão habilidades de elaboração de projetos em níveis mais avançados de desenvolvimento (Anteprojeto), além de recursos de otimização da comunicação e interoperabilidade de projetos através do uso de ferramentas de gerenciamento do tempo (BIM 4D) e de custos (BIM 5D) com base em estratégias LEAN e Métodos Ágeis para gestão dos processos de projeto.
Conhecendo o mercado da Construção Civil cearense
Atento às demandas presentes e futuras, o Instituto Euvaldo Lodi (IEL Ceará) desenvolveu junto ao SENAI Ceará uma pesquisa para conhecer as práticas e tendências do mercado da construção civil com relação à adoção do BIM pelas construtoras e escritórios de projeto no Ceará. A pesquisa foi realizada em fevereiro de 2021 e serviu como subsídio para que os docentes do SENAI se alinhassem às demandas de formação locais.
No total, 178 empresas foram consultadas. Cerca de 33% declararam utilizar alguma ferramenta BIM em seus processos. “Isso sinaliza que uma parte representativa do mercado está atenta às demandas por inovação dos processos de projeto na construção civil. Ainda assim, sinaliza também um amplo espaço de demanda (quase 67%) por capacitação para adoção do BIM”, avalia o engenheiro e especialista técnico do SENAI Ceará, Rafael Venâncio.
O cenário muda levemente quando se analisa o cenário de adoção do BIM pelas construtoras e escritórios de arquitetura. No Ceará, 22,7% das construtoras já implementaram o uso de ferramentas BIM em seus processos e entre os escritórios de arquitetura o percentual é de 36,6%.
O Comitê Gestor responsável pela disseminação do BIM no Brasil indica que no país apenas 9,2% das empresas do setor da construção já implantaram o BIM nas suas rotinas de trabalho. “Os números sinalizam que o Ceará está se preparando bem para a adoção dessa tecnologia quando comparado à média nacional. Ainda assim, fica claro que a demanda por capacitação ainda é predominante”, pontua Rafael Venâncio.
Uso do BIM deve crescer
As construtoras e escritórios de projeto da construção civil, hoje, ainda dependem de sistemas CAD (Desenho Assistido por Computador) de representação bidimensional, onde um conjunto de linhas representa o que deverá ser construído. Esse modelo de trabalho possui inúmeras desvantagens em relação ao modelo BIM, principalmente quanto à produtividade dos projetistas e qualidade final dos seus projetos.
O BIM possibilita muito mais do que a geração de gráficos bidimensionais (2D) e tridimensionais (3D) de projetos de edificações e infraestrutura, detalha Davi Ramalho. “O BIM insere nos elementos do desenho informações técnicas como as propriedades e desempenho dos materiais. Por meio do BIM também é possível a geração automática de quantitativos e custos a partir de bases de dados nacionais, o que antes era feito praticamente de forma manual e não automatizada”.
Há ainda a possibilidade de simulação do desempenho estrutural, de conforto térmico e de consumo de energia, com o modelo desenvolvido via software. Além disso, o BIM permite a gestão de tempo (BIM 4D), de custos (BIM 5D) e desempenho (BIM 6D) do projeto ao longo de todo seu processo de desenvolvimento.
O BIM permite também que especialistas de diferentes áreas da cadeia produtiva da construção civil, tais como empreendedores, investidores, arquitetos, engenheiros civis, engenheiros mecânicos e engenheiros eletricistas possam compartilhar informações, integrando todas as informações simultaneamente no mesmo projeto.
A partir da iniciativa de instituições do setor da Construção Civil junto com o governo federal, foram iniciadas, em 2017, as articulações para a criação de um comitê que deveria ser responsável pela gestão estratégica e de disseminação do BIM no Brasil. Em 2020, foi assinado o Decreto Federal nº 10.306 que estabelece a utilização do BIM na execução direta ou indireta de obras e serviços de engenharia realizados pelos órgãos e pelas entidades da administração pública federal.
Esse decreto é uma estratégia para fazer com que entidades públicas dos âmbitos estaduais e municipais, bem como as empresas que atuam no setor privado, acompanhem o processo de inovação no desenvolvimento de projetos de construção civil através do BIM.
Fonte: Camila Gadelha em matéria publicada no G1